Zoonoses: o que é e como evitar?

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Há mais de um ano e meio, o mundo enfrenta e tenta combater a pandemia do novo coronavírus. Relatórios e estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que essa doença pode ter surgido através do contágio entre animal e humano. Desta forma, além do debate acerca dos cuidados necessários para evitar a propagação da Covid-19, essa patologia trouxe à tona outro assunto de extrema importância: as zoonoses. 

Zoonoses ou doenças zoonóticas são infecções transmitidas de animais aos seres humanos ou vice-versa. Elas podem ser originárias de vírus, bactérias, parasitas ou fungos. 

Segundo orientações da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da OMS, os animais, principalmente os selvagens, são responsáveis por 70% de todas as doenças infecciosas emergentes em humanos, ou seja, a cada 10 enfermidades, 7 têm origem zoonótica. Os órgãos também alertam que novos vírus podem ser causadores de muitas patologias. 

Ainda de acordo com o PNUMA, em seu documento “Trabalhando com o Meio Ambiente para Proteger as Pessoas”, nas últimas três décadas, mais de 30 doenças humanas surgiram e dessas 75% tiveram origem animal. 

Mas afinal, quais fatores contribuem com o surgimento e disseminação das zoonoses? 

De acordo com o biomédico Arlei Marcili, responsável pelo Programa de Controle de Zoonoses do Legado das Águas, a interferência humana é a principal propulsora das enfermidades zoonóticas. “Os processos antrópicos como desmatamentos e queimadas, bem como o tráfico e comércio ilegal da fauna fazem com que agentes patogênicos zoonóticos que estão restritos à vida silvestre entrem em contato com a população humana, levando ao surgimento de novas doenças”, aponta. 

O biomédico reforça que a melhor maneira de evitar que novas doenças surjam ou que contaminações aconteçam é conservar os ambientes silvestres, ou seja, mantê-los em equilíbrio. 

Outro fator que pode ajudar a conter as zoonoses é a educação. Para Arlei, a partir do momento que há uma explicação à população sobre as principais doenças zoonóticas, o que elas podem causar e a maneira que podem ser evitadas, existe uma minimização do contato do homem com animais e, logo, com patógenos. 

 

Tipos de doenças zoonóticas

No relatório intitulado “Prevenir a Próxima Pandemia – Doenças Zoonóticas e Como Quebrar a Cadeia de Transmissão”, o PNUMA descreve a existência de três tipos de doenças zoonóticas. São elas:

Emergentes: enfermidades que surgiram recentemente ou que já existiam, os quais não possuíam muita incidência, mas que começaram a crescer a pouco tempo. A maioria não se espalha amplamente, no entanto, há casos de disseminação global;

– Epidêmicas: doenças que não são contínuas, ou seja, ocorrem de forma intermitente. Geralmente, possuem origem doméstica e são desencadeadas por alguma condição adversa, como eventos climáticos;

– Negligenciadas: são, sobretudo, de origem doméstica e estão constantemente presentes em populações mais vulneráveis, de baixa renda e sem acesso às condições básicas de saneamento. 

 

Contágios e tratamentos

Conforme a definição estabelecida pela OMS, mais de 200 doenças podem ser classificadas como zoonoses. 

Tais enfermidades podem ser transmitidas direta ou indiretamente, isto é, o contágio pode acontecer através do ar, pela ingestão de água ou alimentos infectados, por meio de arranhões, mordidas, assim como pelo contato com vetores ou secreções que contém algum patógeno (fezes, urina, saliva e sangue).

Como existem inúmeros tipos de zoonoses, Arlei revela que tanto os sintomas quanto os tipos de tratamento para cada enfermidade podem variar bastante. “Fica muito difícil elencar um sintoma principal ou um método de combate porque isso vai depender muito do agente e do órgão que ele vai acometer”. 

 

Saúde única

Engana-se quem acha que a saúde animal e humana não estão conectadas pois, além de se  relacionarem entre si, também estão em sinergia com a saúde do meio ambiente. Essa conexão tríplice é chamada de saúde única. 

Arlei Marcili explica que não é possível fazermos uma dissociação da saúde única. “Antigamente, nós acreditávamos que deveríamos cuidar do meio ambiente, da saúde humana e da saúde animal separadamente. Mas na verdade, nós estamos tratando de uma única coisa”, destaca.  

Portanto, caso o ambiente sofra algum desequilíbrio, consequentemente teremos um reflexo na saúde animal e humana. É um ciclo. “Se a gente mexe na organização da nossa casa, todos que vivem nela são afetados”, conclui Arlei.

 

* Thayná Agnelli é jornalista formada pela FAPCOM, tem experiência em gestão de redes sociais e é responsável pela criação de conteúdo para o Legado das Águas.

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