Você já ouviu falar em PANC?
Termo criado em 2008 pelo biólogo e professor Valdely Ferreira Kinupp, PANC significa Plantas Alimentícias Não Convencionais, isto é, se refere a todas as plantas que têm uma ou mais partes que podem ser ingeridas, mas que não estão presente em nossa alimentação cotidiana. Todavia, o consumo e o conhecimento sobre as PANCs pode variar conforme a região, por isso são alimentos que precisam de maiores explicações, ou seja, além do nome, é importante apresentar as formas de consumo e preparo.
Estima-se que no mundo haja cerca de 25 mil espécies de plantas comestíveis. Especificamente no Brasil, a expectativa é que exista de 8 a 10 mil. Somente de espécies nativas, o número estimado é de 4 a 5 mil espécies, porém, devido aos hábitos alimentares enraizados globalmente, menos de 300 PANCs estão sendo consumidas mundo afora.
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Tilápia grelhada com molho de juçai e bolinhos com folhas de batata doce | foto: Andressa Garsko
No geral, as PANCs não possuem cadeia produtiva estruturada. No Brasil, por exemplo, o cultivo é realizado, sobretudo, por agricultores familiares, que plantam para o consumo próprio ou comunitário, passando o conhecimento de geração em geração, sem apelo comercial.
Desta maneira, tanto o cultivo quanto o consumo de PANCs no país caracterizam-se como valorização do que é local, representando assim o incentivo à agroecologia e aos pequenos produtores, bem como estimulam à diversificação alimentar que fomentam a manutenção das florestas e sua biodiversidade, sendo uma aliada da conservação ambiental.
Importância das PANCs
Muitas vezes chamadas de “mato”, as PANCs são benéficas à saúde e engana-se quem acha que somente folhas podem ser classificada dessa maneira. Sementes, brotos e flores, por exemplo, também podem ser comestíveis.
Outra curiosidade é que as PANCs variam de região para região. O que é considerado uma planta alimentícia não convencional no Sudeste, pode ser tradicional no Nordeste e vice-versa. O “Arroz de Cuxá”, no Maranhão e o “Angu com Taioba”, em Minas Gerais, são exemplos de pratos típicos regionais que levam PANCs em suas receitas, assim elas também representam uma importância cultural imensurável.
- Panqueca de coração de banana e mix de trevo com flor de hibisco | foto: Larissa Camargo
- Nhoque de banana verde e banana chips | foto: Larissa Camargo
Assim como as plantas convencionais, as PANCs também possuem inúmeros benefícios nutricionais, já que têm proteínas, vitaminas, antioxidantes, fibras e sais minerais, ou seja, o que nosso corpo precisa para funcionar bem. Além disso, por suas propriedades, auxiliam na prevenção de doenças.
Um diferencial das PANCs é que elas são adaptáveis, isto é, são resistentes e se propagam com facilidade em diferentes locais e climas, aspectos estes que plantas comuns em nosso dia a dia muitas vezes não são adequam. Além do mais, por não necessitar de interferência humana, seu cultivo é muito mais ecológico.
PANCs da Mata Atlântica
Estima-se que a Mata Atlântica possua uma riqueza de 20 mil espécies de plantas, sendo cerca de 6 mil endêmicas, ou seja, uma biodiversidade maior do que existe em alguns continentes, como América do Norte e Europa.
Diante dessa rica flora, a floresta também se destaca como a casa de inúmeras PANCs. No Legado das Águas, por exemplo, maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil, há a presença de algumas, como Beldroega, Bredo, Cambuci, Erva de Santa Maria, Embaúba, Hibisco, Serralha e Taioba. No local, essas plantas, além de diversificar os pratos oferecidos no restaurante, também enaltecem a biodiversidade da área, apresentando diferente espécies e seus potenciais culinários.
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Dona Virgínia, cozinheira dos pratos PANCs do Legado das Águas | foto: Larissa Camargo
As Plantas Alimentícias Não Convencionais escondem inúmeras possibilidades culinárias mesmo que não seja habitual estar à nossa mesa. Além disso, são fundamentais para a manutenção das nossas florestas e sua diversidade vegetal, bem como à valorização local.
Bora inserir as PANCs em nosso cardápio? Os benefícios são imensuráveis!
* Thayná Agnelli é jornalista formada pela FAPCOM, tem experiência em gestão de redes sociais e é responsável pela criação de conteúdo para o Legado das Águas.