Vida selvagem: o que é, ameaças e valores ecológicos!
Hoje, comemora-se o Dia Mundial da Vida Selvagem, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2013. O objetivo da celebração é reafirmar o valor ecológico das espécies, bem como alertar e combater a perda da biodiversidade.
Animais selvagens
A fauna selvagem é composta por bichos que vivem livremente na natureza, ou seja, que não podem ser domesticados e não estão acostumados com a presença humana, assim como apresentam dificuldade para se desenvolver fora do habitat natural, por exemplo, em cativeiros.
Também chamados de silvestres, eles possuem hábitos e rotinas próprias e são constantemente ameaçados pela interferência do homem. O relatório Living Planet Report 2020, lançado pelo World Wide Fund for Nature (WWF), revela que, em menos de 50 anos, o planeta perdeu 68% dos animais selvagens, isto é, mais de dois terços das populações de mamíferos, aves, répteis e peixes foram extintas.
De acordo com o levantamento, as sub-regiões tropicais das Américas do Sul e Central são as mais preocupantes, já que, entre 1970 e 2016, a redução desses grupos foi de 94%. O estudo indica ainda que 51,2% do desaparecimento da biodiversidade na América Latina e no Caribe se dá pelas mudanças no uso do solo, como desmatamento crescente, expansão agrícola e urbana e produção de energia e mineração. Fragmentação de rios e riachos também são ameaças aos habitats de água doce.
A caça e o tráfico de animais são outros fatores que impulsionam a extinção da vida selvagem. Segundo o relatório Wildlife Trafficking In Brazil, produzido pela The Wild Trade Monitoring Network (Traffic) e International Union for Conservation of Nature (IUCN) com o suporte da United States Agency For International Development (USAID), o Brasil é o ponto de referência para o tráfico internacional de espécies silvestres.
Conforme o estudo, cerca de 82 mil animais foram traficados, entre janeiro de 2017 a agosto de 2019, para os Estados Unidos saindo de São Paulo. Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname, países que fazem fronteira com o Brasil, também são rotas para o comércio ilegal.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mais de 80% dos bichos vendidos no país são aves.
Paralelamente ao tráfico de espécies selvagens, estão os dados de apreensões. Segundo as informações obtidas pelo Ecoa Uol junto ao Ibama, em 2019, houve queda no número de resgates desses animais. Enquanto em 2017 e 2018 foram registradas 1.124 e 1.402 apreensões respectivamente, em 2019 aconteceram 1.121.
Plantas Selvagens
Conforme o relatório State of the Word’s Trees, realizado pela Botanic Gardens Conservation International, o planeta tem 30% das espécies arbóreas (estimadas em 60 mil) em perigo de extinção, ou seja, uma a cada três árvores podem desaparecer.
Mesmo sendo o país mais biodiverso do mundo, o Brasil possui grande parcela de suas árvores ameaçadas, representando 20% de sua flora arbórea, segundo o estudo. Ou seja, das 8.847 espécies nativas, 1.788 podem sumir.
Dentre os fatores que impulsionam tal cenário, está o desmatamento. O Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, produzido pelo MapBiomas, revela que, em 2020, a cada segundo, 24 árvores foram derrubadas no país. Isso representa um crescimento de 14% no desmatamento nacional. Somente em nosso bioma, de acordo com o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, da Fundação SOS Mata Atlântica, entre 2019 e 2020, houve uma alta de 14% da devastação do bioma em relação ao período de 2017 e 2018. Apenas no estado de São Paulo, a degradação aumentou 400%.
Outra forma de exploração vegetal é a coleta e a venda ilegal das plantas que impacta significativamente no equilíbrio dos ecossistemas e em sua manutenção, uma vez que a extração da flora intensifica as mudanças climáticas, segundo o World Wildlife Crime Report, do United Nations Office on Drugs and Crime.
Combate às ameaças da vida selvagem
Além do aspecto ecológico, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) indica que a vida selvagem é fundamental para o equilíbrio econômico, social, científico, educacional e cultural. O órgão destaca ainda que a exploração sustentável pode viabilizar avanços medicinais.
O âmbito da saúde tem ligação direta com a conservação da vida selvagem. Conforme dados apresentados no relatório Living Planet Report 2020, 60% das doenças infecciosas contemporâneas são originárias dos animais, sendo que cerca de três quartos delas são provenientes de espécies selvagens.
O levantamento também mostra que metade das novas enfermidades infecciosas emergentes de animais está relacionada às mudanças no uso do solo. Isso significa que a aceleração agrícola e industrial em áreas naturais desestrutura sistemas ecológicos e geram contato entre humanos e bichos silvestres, assim aumentam as chances de propagação de doenças zoonóticas.
Desta forma, monitorar e controlar as interferências do homem perante a fauna e flora selvagem é o caminho para a redução das ameaças ao meio ambiente e a toda a vida terrestre. Para isso, existe a Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites), que protege cerca de 5.950 espécies de animais e 32.800 espécies de plantas do planeta.
Vida selvagem no Legado das Águas
O Legado das Águas, maior Reserva privada de Mata Atlântica do país, possui uma área de 31 mil hectares, sendo 75% da área em alto grau de conservação. Com isso, possui grande quantidade de vida selvagem.
Em relação às plantas, o local já registrou a presença de 956 espécies de flora nativa em seu território, sendo 22 catalogadas com algum grau de ameaça. Do total de plantas identificadas, 233 são orquídeas, ou seja, o Legado abriga 31,4% de toda a diversidade de orquídeas presentes no estado de São Paulo, estimada em 750 espécies.
Dentre as espécies de orquídeas registradas, estão a Octomeria estrellensis, considerada extinta na natureza há mais de 50 anos, e a Lepanthopsis legadensis, um novo tipo descoberto na Reserva.
O número de espécies de animais registrados no Legado é de 809, sendo que 38 estão em perigo de extinção. Esse dado é bem considerável, visto que o Ibama e o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF) evidenciam que a Mata Atlântica é refúgio de 383 bichos que estão ameaçados. Deste modo, a Reserva abriga 13% deles, como o muriqui-do-sul, maior primata das Américas, o sabiá-pimenta, a jacutinga e o tucano-de-bico-preto, todos considerados ameaçados pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, da IUCN.
A quantidade de aves identificadas no Legado também chama atenção. São 296 registros, o que representa 40% de toda a avifauna do Estado de São Paulo.
Gabriel Gade, analista de pesquisa da Reserva, revela que a presença da fauna selvagem é essencial para a manutenção da flora nativa e vice-versa. Sendo assim, ele destaca que a existência de animais no local viabiliza a manutenção da floresta a longo prazo.
Outro apontamento do Gabriel é em relação à indicação da estabilidade ecossistêmica que a vida selvagem proporciona. “Existem muitos estudos envolvidos para avaliar se uma área está em equilíbrio ecológico. Porém, podemos ter boa noção sobre o estado de conservação de uma área devido à presença de algumas espécies que são utilizadas como bioindicadores por serem mais sensíveis às atividades antrópicas e são as primeiras a desaparecer em um local degradado”.
O analista também comenta sobre a importância de eliminar ou reduzir as interferências antrópicas no meio ambiente, conservando, restaurando e protegendo o habitat da fauna e flora. Assim como buscar o entendimento sobre os impactos que a extração de plantas, a caça e tráfico ilegal de animais podem ocasionar.
E você, está colocando em prática quais são as atitudes contribuintes à conservação das florestas?
* Thayná Agnelli é jornalista formada pela FAPCOM, tem experiência em gestão de redes sociais e é responsável pela criação de conteúdo para o Legado das Águas.