Já ouviu falar em muriqui-do-sul, o jardineiro de floresta?

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Provavelmente, você já ouviu falar em saguis, macaco-prego e mico-leão-dourado. Todos eles são espécies de macacos. Mas e o muriqui-do-sul, você conhece?

O muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides) é o maior primata das Américas. Nativo da Mata Atlântica, ele povoa a floresta há 11 mil anos. Entretanto, sua presença na mata está em perigo.

Em 2019, a União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) divulgou a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. Nela, os muriquis-do-sul foram classificados como criticamente em perigo, ou seja, das nove categorias da lista (não avaliados, dados deficientes, pouco preocupante, quase ameaçado, vulnerável, em perigo, criticamente em perigo, extinto na natureza e extinto), o animal está na terceira posição na escala de ameaça.

De acordo com Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, produzido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em 2018, a Mata Atlântica possui 596 espécies de animais ameaçados de extinção, sendo que 38,5% são endêmicas, uma delas é o muriqui-do-sul. Desta forma, a fauna em perigo do bioma corresponde a 50,8% do total dos bichos que podem desaparecer do Brasil (1.173).

Essa preocupação com a proteção da biodiversidade é um tema discutido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) do órgão, o ODS 15 – Vida Terrestre diz, em síntese, que proteger, recuperar, promover e deter a perda da biodiversidade é responsabilidade de todos. Com isso, a ONU indica que empresas e organizações da sociedade civil precisam tomar medidas urgentes e significativas para reduzir a degradação de habitat naturais e evitar a extinção de espécies ameaçadas.

Segundo o ICMBio, a perda de habitat causada pelo desflorestamento da Mata Atlântica para transformação em áreas produtivas de pecuária e agricultura, por exemplo, é uma das ações maléficas contra os muriquis. Além disso, tem a caça ilegal (considerada crime ambiental), relacionada à extração ilícita de palmito juçara (Euterpe edulis) presente no bioma. A lista da IUCN acrescenta que o trafico ilegal de animais e o desenvolvimento residencial e comercial também contribuem para esse cenário negativo.

 

Características e importância do muriqui-do-sul

Muriqui vem do tupi e significa “gente que bamboleia” e “povo manso da floresta”. As definições fazem referências ao comportamento do animal, que além de ser sociável e dócil, gosta de dar abraços.

Com a face preta e pelagem bege-marrom-amarelada, os muriquis-do-sul vivem espalhados entre Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Estima-se que restam somente cerca de 1.200 animais pela floresta, realidade preocupante, uma vez que eles são os principais dispersores de sementes entre os primatas endêmicos. Não é à toa que são chamados de “jardineiros de florestas”, pois as sementes que saem em suas fezes têm maior capacidade de brotarem. Sendo assim, eles ajudam a plantar novas árvores que protegem os mananciais de água potável.

Além de sementes, os muriquis se alimentam de folhas, frutos e néctar de flores.

 

Refúgio de proteção

No fim de 2019, o Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil, foi classificada como uma Área Prioritária Global para a conservação do muriqui-do-sul. Esse reconhecimento aconteceu porque o local abriga uma das três populações mais importantes do mundo deste primata.

Aproximadamente, 100 muriquis, ou seja, cerca de 10% da população total da espécie, vivem no Legado, floresta que possui um estágio avançado de conservação. Além dessa condição benéfica para o animal, há o controle e monitoramento de presença humana nos 31 mil hectares da Reserva.

A indicação como Área Prioritária Global foi conferida pela IUCN. Desta forma, o Legado torna-se oficialmente um polo mundial de pesquisas sobre essa espécie de macaco. Com isso, pode receber cientistas, instituições e doações de todo o mundo em favor da conservação do muriqui-do-sul.

 

* Thayná Agnelli é jornalista formada pela FAPCOM, tem experiência em gestão de redes sociais e é responsável pela criação de conteúdo para o Legado das Águas.

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