Importância das antas para a manutenção das florestas
A anta (tapirus terrestres), também conhecida como anta brasileira, é o maior mamífero do país e pode ser encontrada em diferentes biomas, como Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica.
Apesar de estar presente em várias florestas, o animal corre risco de ser extinto da natureza. De acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, de 2019, elaborada pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), as antas estão classificadas como vulneráveis, isso significa que, das nove categorias da listagem (não avaliados, dados deficientes, pouco preocupante, quase ameaçado, vulnerável, em perigo, criticamente em perigo, extinto na natureza e extinto), esse animal encontra-se na quinta posição na escala de ameaça.
Especificamente na Mata Atlântica, dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) apontam que as antas estão em perigo no bioma, uma vez que há redução populacional por causa da diminuição da área de ocupação dos animais, bem como, da extensão de ocorrência e qualidade do habitat dessa espécie. Além disso, o ICMBio estima que as populações de antas com menos de 200 indivíduos podem desaparecer em trinta anos, um temor ecológico.
Essa preocupação com a extinção de biodiversidade é um assunto discutido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Um dos seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o ODS 15-Vida Terrestre é dedicado ao tema. Ele orienta, resumidamente, que proteger, restaurar e deter a perda de fauna e flora é fundamental, ou seja, recomenda que empresas e organizações da sociedade civil adotem ações que contribuam para a redução da degradação de habitats naturais e evitem o desaparecimento de espécies ameaçadas.
Segundo o ICMBio, o desmatamento ou alteração das florestas acompanhados pelo crescimento urbano, atropelamentos em estradas e queimadas, impactam significativamente no esforço para conservação das antas. A lista da IUCN acrescenta que a caça e a captura desses animais também colaboram com o cenário negativo.
Características e importância das antas
A palavra anta e seu nome científico (tapirus terrestres) têm origens indígenas. Tapir e Tapirus vêm de tapyra, nome dado ao animal pelas tribos Tupi da Amazônia e que significa “boi da floresta”.
Apesar de serem comparadas a um boi, as antas possuem a forma do corpo parecida com a de grandes porcos. Já com relação ao seu focinho, são comparáveis ao de um tamanduá. Contudo, esses animais não possuem parentescos, como esclarece o livro Trilha das Antas – Um Guia Curricular para Educadores, dos pesquisadores do Grupo de Especialistas em Antas da Comissão de Sobrevivência de Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza.
Outra característica das antas é a pele grossa. Esse atributo reduz a possibilidade de ferimentos promovendo a proteção contra galhos espinhosos, por exemplo. Além disso, a pele dura do pescoço é uma defesa contra as mordidas dos predadores, principalmente onças-pintadas e pardas. Elas também usam a corrida veloz para escaparem dos felinos.
A anta brasileira pode chegar a 1,8 metros de comprimento e pesar cerca de 225 quilos. Geralmente, elas são solitárias, apenas quando estão com a mãe ou em acasalamento que andam acompanhadas.
O animal chega à maturidade sexual entre três e cinco anos de idade e sua gestação tem duração de treze a quatorze meses. Além disso, a fêmea dá à luz, de pé, a um filhote que pode pesar de 7 a 11 quilos. Não é comum o nascimento de gêmeos.
Outra curiosidade é que duas horas após o nascimento, o filhote já consegue se levantar e em poucas semanas já segue a mãe pela floresta.
As antas têm hábitos noturnos. À noite, elas aproveitam o momento em que estão acordadas para procurarem comida, seu cardápio inclui frutos, folhas, outras partes de plantas e, também, vegetação aquática. Por dia, elas consomem 40 quilos de alimentos.
Como caminham por distintos habitats atrás de comida, esses animais são importantes para a manutenção e renovação das florestas, uma vez que são dispersores de sementes, ou seja, liberam sementes por meio das fezes. Normalmente, devido à presença fungos e matéria orgânica nas fezes, essas sementes possuem maior potencial para germinarem e produzirem novas árvores. Desta forma, além de aumentarem a diversidade biológica, as antas proporcionam refeições para outros bichos.
Antas no Legado das Águas
No Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil, as antas são uma espécie comum de serem avistadas ao longo das estradas e durante atividades ecoturísticas. De fevereiro de 2020 a fevereiro de 2021, foram feitos 171 registros do animal através de câmeras trap, armadilhas fotográficas, instaladas em pontos estratégicos na floresta. Além disso, em 37 oportunidades, antas foram vistas por observação direta, ou seja, sem a utilização de equipamentos.
A Reserva também é refúgio para duas antas albinas. A primeira descoberta aconteceu em 2014 e a segunda em 2018. Os animais são machos e chamados carinhosamente de Gasparzinho e Canjiquinha.
Como ambos são machos, uma possível explicação para esse fenômeno raro de albinismo em dois indivíduos presentes no mesmo local é a relação parental, ou seja, eles podem ser dois irmãos ou pai e filho.
O Albinismo é hereditário e recessivo, isto é, tanto o macho quanto a fêmea precisam ter o gene que causa a falta de pigmentação para gerarem um filhote albino. Entretanto, os pais não precisam ser albinos.
O Gasparzinho e o Canjiquinha são albinos completos, ou seja, possuem toda pelagem branca e os olhos despigmentados. A fama deles já se espalhou pelas comunidades do Vale do Ribeira. Hoje, eles são sinônimos de conscientização para a proteção das antas. No entanto, se para os humanos esse fato gera um encantamento, para o reino animal, ser albino pode ser um risco, visto que esses bichos são presas fáceis já que não possuem a pelagem camuflada.
* Thayná Agnelli é jornalista formada pela FAPCOM, tem experiência em gestão de redes sociais e é responsável pela criação de conteúdo para o Legado das Águas.