Importância das abelhas para a biodiversidade

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A importância da polinização para o desenvolvimento sustentável é indiscutível. É por meio deste processo que as flores são fecundadas, o que permite a formação de frutos e sementes, e logo, o surgimento de uma nova planta.

A água, o vento e a gravidade são alguns tipos de agentes polinizadores, mas os animais são os principais responsáveis pelo trabalho. Cerca de 80% de todas as plantas com flores, por exemplo, são reproduzidas por eles, sobretudo pelas abelhas que são as mais eficientes. Por dia, elas podem visitar aproximadamente 7 mil flores, assim fomentam o equilíbrio dos ecossistemas e permitem a manutenção da biodiversidade, assunto de extrema relevância para a Organização das Nações Unidas (ONU).

Um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) determinados pelo órgão, o ODS 15 – Vida Terrestre, é dedicado ao tema e diz, resumidamente, que todos devem buscar proteger, recuperar, promover e deter a perda de biodiversidade.

Além do ODS 15, a organização também procura conscientizar e lembrar sobre a contribuição das abelhas para os biomas no Dia Mundial das Abelhas, celebrado desde 2018 em 20 de maio, dia em que Anton Janša, pioneiro na criação e uso de técnicas de apicultura, nasceu no século XVIII.

Segundo a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), existem cerca de 20 mil espécies do animal no mundo. No Brasil, há aproximadamente 1,6 mil, sendo mais 300 espécies nativas, como aponta o relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), de 2018.

Somente da espécie Miliponini, denominada popularmente por abelhas sem ferrão, indígenas ou nativas, são conhecidas cerca de 400 tipos. O país conta, em média, com 250, de acordo com a A.B.E.L.H.A. Uma delas é a Jataí.

Os Meliponíneos têm o ferrão atrofiado, ou seja, são incapazes de ferroar. Porém, possuem mecanismos de defesa. A equipe da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) revela que al­­­gumas dessas abelhas desenvolveram outras técnicas para se defender como mordiscar e até mesmo soltar substâncias que provocam ardência em contato com a pele humana.

A SPVS ainda indica que, comparados aos insetos com ferrão, as asas dos Meliponíneos são menores e a dinâmica de organização das colmeias, tanto em estrutura física quanto ao comportamento com as demais abelhas, é diferente. “A abelha africanizada (Apis mellifera), que possui ferrão, armazena o pólen e mel em favos, ao passo que as abelhas sem ferrão constroem potes para armazenar o pólen e o mel”, acrescenta a bióloga, mestre e consultora da A.B.E.L.H.A., Katia Aleixo.

Outra curiosidade é em relação ao mel. Como as abelhas nativas não ferroam, o mel produzido é mais fácil de ser cultivado, visto que tanto o manejo quanto o monitoramento das colônias e meliponários se tornam uma atividade menos perigosa. Além disso, a SPVS destaca que o mel delas tem “propriedades muito específicas e importantes, podendo, por exemplo, ser usado como bactericida, antifúngico, cicatrizante e antioxidante”.

 

Meliponíneos e a Mata Atlântica

Assim como as abelhas com ferrão, os meliponíneos são essenciais para a conservação ambiental. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), eles são responsáveis pela polinização de 30% da biodiversidade da Caatinga e Pantanal e até 90% das espécies da Mata Atlântica. Katia Aleixo enfatiza que, só na Mata Atlântica, pesquisas apontam que “podem ser encontradas mais de 200 espécies de abelhas visitando flores de mais de 350 plantas”.

Apesar da contribuição das abelhas nativas ser conhecida, elas são ameaçadas pelas atividades humanas. A SPVS ressalta que a interferência do homem está entre as principais consequências da extinção do inseto. “Práticas como queimadas, roçadas, utilização de agrotóxicos diminuem a possibilidade de sobrevivência destas espécies. A extinção destes insetos pode comprometer a existência de espécies da flora brasileira e, consequentemente, todo o equilíbrio natural necessário, inclusive, a sobrevivência humana com qualidade e bem-estar”, enfatiza a equipe da SPVS.

Conscientes da importância das abelhas, o Legado das Águas deu início a um projeto próprio de pesquisa sobre o animal. O intuito do estudo é aumentar a população e produzir mel a partir das espécies nativas, como a Jataí, que pode ser encontrada na Reserva. Sendo assim, a equipe do Legado começou a se estruturar para capturar as abelhas, alocá-las nas colmeias existentes ao longo das trilhas do local e assim, construir um meliponário.

Outra iniciativa do Legado é o apoio oferecido à Associação dos Apicultores do Vale do Ribeira (APIVALE), uma vez que, além dos serviços ambientais e ajuda na produção de alimentos, as abelhas geram renda para os agricultores. Com isso, a parceria também é um instrumento para a disseminação dos benefícios do inseto.

 

Curiosidade

Além de serem valorizados pelo bom trabalho com a polinização, as abelhas e outros animais são destaques em diferentes setores. Katia Aleixo conta que eles possuem espaço na arte, música, literatura e na religião sendo fonte de inspiração. “Em alguns países, são símbolos nacionais, como é o caso da Jamaica (beija-flor) e Sri Lanka (borboleta). Diversos polinizadores também fazem parte do folclore mundial, figurando em contos, fábulas, costumes e tradições populares”, ressalta.

 

* Thayná Agnelli é jornalista formada pela FAPCOM, tem experiência em gestão de redes sociais e é responsável pela criação de conteúdo para o Legado das Águas.

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